Prepare-se para lidar com um funcionário alfandegário que acredita que o título de "autoridade" lhe confere o direito divino de se comportar de maneira fria, rude, antipática, sem a menor sensibilidade com o seu natural nervosismo, indiferente ao fato que você viajou por muitas e longas horas e que está há outras tantas horas em pé numa fila, segurando casaco, mochila, uma criança pequena agarrada à sua mão, e procurando desesperadamente os respectivos passaportes que parece terem desaparecido dentro da bolsa.
Prepare-se para topar com uma barreira policial devido a um desabamento de uma ponte. Isso acabou causando um impedimento intransponível na estrada, e você será obrigado/a a reavaliar se deve aguardar por tempo indeterminado (pois ninguém parece saber o quanto vai demorar para liberar), se deve consultar o mapa, o GPS, o Google, o guarda rodoviário e se informar se há um desvio qualquer que possa ser usado, ou... desistir, dar meia-volta e retornar. Enquanto isso as crianças, no banco de trás, continuam perguntando, insistentemente: "Já tá chegando, pai?"
Prepare-se para enfrentar um/a rival no trabalho, que não perde oportunidade para humilhá-lo/a, apontar defeitos em seu serviço, levantar dúvidas sobre o seu caráter, empenho e dedicação à empresa e, além da prática desse bullying, ainda convencer os/as demais colegas a isolá-lo/a e até mesmo cooperarem com ele/a (seu/sua opositor/a) para que suas sugestões e opiniões sejam sumariamente descartadas e impedidas de serem usadas nas reuniões de trabalho com a gerência. Diga adeus à possibilidade de um reconhecimento ou promoção.
Prepare-se para a decepção de ter seu visto sumariamente recusado e assim perder a oportunidade (presente dos pais por ter terminado o Ensino Fundamental) de visitar aquele famoso parque de diversões no exterior. e ser impedido de celebrar a formatura, com o Mickey e a Minie e toda a turma do colégio.
Prepare-se para o desafio de ter que aprender a guiar e enfrentar o exame de motorista, logo você que tem trauma de dirigir desde quando, ainda criança, estava num carro que sofreu um gravíssimo acidente.
Prepare-se para, ao voltar das férias, ser comunicado que foi demitido do emprego e, ao chegar em casa, ainda arrasado com a notícia, lhe aguardam, encima da mesa, todas as contas para pagar, inclusive a do cartão de crédito que, obviamente, foi "detonado" na viagem. Enquanto você pensa no que fazer, em como resolver aquela inesperada e terrível situação, como comunicar à família, enquanto se sente paralisado e sem ação, seu/sua companheiro/a lhe avisa que ligaram do banco para dizer que é preciso fazer um depósito urgente pois o limite da conta (também!) foi "estourado". Ah! E o dentista da criança também perguntou se podem quitar a parcela do aparelho, que já está atrasada.
Preparem-se para lamentarem não terem prestado mais atenção quando a MONTANHA, carta de número 21 do Baralho Lenormand (também conhecido como Baralho ou Tarô Cigano) apareceu naquela tiragem...
É difícil encontrar alguém que não atribua à uma MONTANHA uma caráter de força, de imponência, de grandiosidade, de respeito, de solidez. De algo distante, íngreme, de difícil acesso, desafiador, que está ali, em meio à paisagem, firmemente plantado no solo, ameaçadora e bela a um só tempo.
Quando essa carta aparece numa jogada, ela vem carregada dessas possibilidades interpretativas: frieza, resistência, adversidade, esterilidade, um impasse, uma oposição, algo estagnado, algo proibido, falta de flexibilidade, falta de jogo de cintura, indiferença, rejeição, uma recusa, uma negação, um poderoso e ríspido inimigo estacionado em nosso caminho, impedindo a realização dos nossos desejos e necessidades.
Mas, como essa lâmina nos fala de antagonismos (ao mesmo tempo que a MONTANHA está solidamente apoiada na Terra, ela se eleva para o Céu), ela também, dependendo, é claro, da pergunta feita e das demais cartas próximas, representar um grande triunfo, um sucesso duramente perseguido, uma conquista que pode ter nos custado sacrifícios, mas que acabou acontecendo. Até mesmo porque a MONTANHA não significa algo impossível, mas algo desafiador, que irá exigir do Consulente persistência, perseverança, manter uma atitude positiva, respeitar mas não se submeter nem se deixar intimidar, e lembrar que "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Há uma sabedoria enorme contida nesses ditados que refletem a sabedoria popular, tantas vezes desprezada.
Pelas dificuldades que apresenta, pelos sacrifícios que requer, pelo desafio (às vezes mortal) que definitivamente é, escalar uma MONTANHA pode ser uma representação simbólica da busca do conhecimento e elevação espiritual. Não querendo confundir ou comparar oráculos, mas dê uma olhada no Arcano IX do Tarot, o Eremita, e repare que, na maioria das ilustrações, ele se encontra isolado, retirado, silencioso, caminhando muito lentamente, mas obstinado, no alto de uma MONTANHA, segurando sua lanterna, em busca do auto-conhecimento, da iluminação interior, enfrentando o homérico desafio de reavaliar sua trajetória e considerar seus objetivos.
Quem se dedica seriamente ao desenvolvimento espiritual sabe as oposições que irá enfrentar, a resistência que irá sofrer, o esforço que terá de empregar para prosseguir em seu caminhar e rejeitar tudo o que possa impedir, bloquear, paralisar ou atrasar sua evolução.
A conquista do cume da MONTANHA pode ser lenta e dificultosa, mas como a Justiça sempre acontece, a recompensa certamente chegará.
Uma observação: podemos estender bastante o significado das cartas do Baralho Lenormand, mas devemos, também, respeitar o fato de que ele é muito objetivo, muito prático e inteiramente voltado para questões do dia a dia e para respostas que não sejam, necessariamente, filosóficas, ou eivadas de conteúdos ocultistas, místicos ou religiosos.
Partindo dessa premissa poderíamos dizer que a carta da MONTANHA também pode simbolizar numa leitura... uma montanha (!), um morro, um promontório, um lugar alto, elevado, uma enorme rocha, uma grande pedra, um cristal de rocha, e, especialmente nos países do Hemisfério Norte, neve, frio, gelo, geada, temperaturas em declínio, invernos extremamente rigorosos.
E, já que estamos falando de coisas mais corriqueiras, não nos esqueçamos de incluir geladeiras, freezers, alimentos congelados, geleiras para bebidas, ar condicionado e (talvez), o velho e bom ventilador.
Lembrando sempre que esta postagem, como todas as demais feitas por mim, não pretende ser uma "regra", uma "fórmula" a ser copiada ou aceita, mas, simplesmente, a minha inspiração e conhecimento técnico, no momento da escrita, ao comentar alguns dos aspectos interpretativos da carta.
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