quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A CRUZ


"Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, e não homem,
Só passou pela vida, não viveu."

Francisco Otaviano

E o Baralho Lenormand (também conhecido como Baralho ou Tarô Cigano) reserva para a sua última carta a imagem da CRUZ.
Seja representando deuses da antiguidade ou da união entre opostos, seja com o significado de ressurreição e regeneração ou para simbolizar a humildade e o sacrifício, fosse para expressar as forças centrípetas do espírito ou mesmo a reproduzindo a figura do homem com seus braços abertos como queriam os cabalistas ou, ainda, como símbolo do instrumento de tortura e do sacrifício do Cristo aceitando a própria morte para redimir os pecados da humanidade, a CRUZ se apresenta em diversas formas desde a antiguidade. Porém, se a forma pode diferenciar entre épocas e culturas, uma coisa permanece comum: a lembrança de que o sofrimento faz parte da trajetória humana.

A carta de número 36 quando surge numa tiragem costuma impressionar o/a Consulente que a associa à possibilidade de morte na família, de amigos, etc, esquecendo-se, talvez, que o que essa carta adverte é que uma prova, um desafio, que terá de enfrentar. Anuncia que uma provação qualquer irá testar sua coragem, sua fé, sua força e capacidade de aceitação provocando, ao final, uma transformação, uma mudança em sua maneira de pensar, sentir e agir. Diferente da carta do CAIXÃO, a CRUZ não é um fim, mas um rito de passagem ao qual nos submetemos e que, ao final, nos recompensa com mais um avanço rumo à nossa evolução. 
A CRUZ promete a dor, mas , através dela, a ressurreição e a regeneração.

A sobrecarga de trabalho que muitos de nós são obrigados a aceitar afim de sustentarem os seus. O verdadeiro suplício que é ficar ligado à máquinas num CTI a fim de garantir uma possibilidade de vida. A privação que tantos passam por terem suas casas, seus pertences arrastados pelas águas barrentas das enchentes e demais catástrofes. A culpa e o remorso que sentimos de não termos estado ao lado de um ente querido quando chegou seu momento de partir desta vida. A dor da mãe, desnutrida e depauperada, escondida sob uma marquise na noite da cidade grande, ouvindo seu filho chorar de fome. A vergonha sentida por todos aqueles que são humilhados publicamente por uma questão de preconceito. O desapontamento do pai idoso, vivendo num asilo, aguardando a visita dos filhos que parecem tê-lo esquecido. O arrependimento do criminoso ao saber-se condenado a viver o resto dos seus dias isolado. A ansiedade, o pesadelo vivido por pais ao verem seus filhos sob a mira da arma de um assaltante. O desassossego de quem perdeu seu emprego. O trauma e a dificuldade em aceitar um diagnóstico de uma doença considerada fatal.
Tantos são os exemplos, tantas são as vezes que confrontamos pessoalmente ou vimos nossos parentes e amigos passarem por situações problemáticas e opressivas onde as lágrimas, a mais profunda tristeza e o desespero desafiavam e negavam qualquer possibilidade de esperança...

Pagamentos atrasados, restrições no crédito, dificuldades econômicas, ambiente e condições ruins de trabalho, períodos de luta contra grandes obstáculos nem sempre com resultados positivos, são alguns episódios tão comuns vividos por tantos e, às vezes por tanto tempo, que o esgotamento nervoso e a mais completa exaustão física vêm somar-se às duras tribulações que já estão sofrendo.

Mas, como todas as cartas do Baralho Lenormand, a CRUZ também contempla significados mais positivos, desde que acompanhada de cartas transformadoras do seu simbolismo. 
Como exemplo podemos citar o trabalho caritativo, feito com benevolência, visando amenizar o sofrimento alheio. A gratificante possibilidade de cuidarmos das pessoas a quem muito amamos quando elas nos necessitam. O fato de podermos vivenciar com alegria e satisfação a nossa verdadeira vocação. As recompensas que obtemos quando cumprimos uma missão que desafiava todos nos nossos instintos de sobrevivência física, mental e emocional.

Esta lâmina também simboliza as religiões instituídas, as crenças, os dogmas, a fé e a devoção e, por conseguinte, também representa o seu oposto, ou seja, a mistificação, o charlatanismo, o fanatismo e a intolerância religiosa.

Quando, numa tiragem de aconselhamento, querendo saber como agir, o que fazer, como se suportar os momentos mais difíceis, mais desafiadores, mais turbulentos da nossa existência, a CRUZ pode servir para nos lembrar que não devemos nunca nos fazer de vítimas. Que se cairmos mil vezes, mil e uma vezes devemos nos levantar. Sermos cautelosos pois em momentos de problemas graves as decisões podem ser equivocadas. Não termos medo, nem vergonha, em pedirmos ajuda. 
E, por último: rezar, pois a comunicação com o Divino é o que alimenta o espirito, nos recupera as forças, apazígua nossas dores e abre nossos olhos para o novo dia que vem nascendo. Isso tem nome e chama-se ESPERANÇA.

OBS.: Com este texto termino minhas considerações pessoais sobre as 36 lâminas do Baralho Lenormand. Neste blog coloquei grande parte da minha vivência, dos meus estudos, da minha prática com as cartas e de como elas, instrumentos que são, colaboraram para que eu e outros encontrássemos respostas para nossas dúvidas e aflições.
Encerro, portanto, meu trabalho neste espaço, agradecido a todos os que um dia porventura o visitarem e encontrarem nessas minhas reflexões um testemunho da minha paixão pela cartomancia e um estímulo para os seus estudos.
Se, no futuro, sentir novamente a necessidade de me expressar, acrescentar, corrigir o que deixei nessas 36 páginas deste blog, o farei com a mesma boa vontade, humildade e encantamento com que procurei completar esta missão tão agradável e recompensadora à qual me propus.

Até!

3 comentários:

  1. Mas só tem 34 páginas, faltaram as lâminas 28 e 29 - O HOMEM e A MULHER, por favor não nos deixe sem eles. Bjks

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  2. Agora sim, segue o comentário sem repeteco de palavras.
    Eu é que agradeço por seus ensinamentos e aproveito para ratificar a solicitação de minha outra grande mestra, Rosa Cristal: onde ficou o casal? Precisamos dessas reflexões. Sucesso, muito sucesso é o que lhe deseja a aluna, fã e amiga Marilia.

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  3. Pois é, minha querida amiga e companheira de estudos: não há nada de importante a ser escrito sobre as cartas 28 e 29. Elas costumam ser apenas representações do/a Consulente, o que é significativo num sentido, digamos, "geográfico" para sabermos quais as cartas que estão, ou não, mais próximas ao Consulente e que portanto devem receber uma atenção extra do/a cartomante. Eles não têm personalidade própria, nem tipo físico a ser descrito. O que vai os descrever, no caso de estarem se referindo a outra pessoa e não ao Consulente, são as cartas vizinhas (ex: Mulher + Torre pode ser mulher alta, mulher importante, alta autoridade, egocêntrica, mulher solitária, mulher presa, mulher no claustro, celibatária, etc). Mas o "adjetivo" é sempre a carta vizinha, não a 28 ou a 29. No caso de ser necessário saber se há uma mulher ou um homem influenciando na vida do/a Consulente, o Cavaleiro e a Cobra são, tradicionalmente, compreendidos como o amante ou a amante, respectivamente. Eu costumo prestar atenção às figuras da Corte, nos baralhos que têm um "insert" dos naipes. Mas hoje em dia é facílimo encontrar-se baralhos com até 3 casais, ao invés de 1 só, permitindo todas as possibilidades de formas de relacionamento. Como você pode ver, minha querida, essas 2 cartas não simbolizam nada que se possa escrever a respeito, pois elas assumem o papel social e de interferência na vida do/a Consulente que se lhes atribuir. Portanto, se decidirem imprimir e montar uma apostilazinha (olha a minha pretensão! Sem brincadeira: existem livros no mercado muitas e muitas vezes melhores que os meus textos)não se preocupem por deixar faltando essas 2 páginas. Abraços e beijos saudosos desse seu fã!

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